Terrorismo social na <em>Prosegur</em>
Ameaçados ilegalmente de despedimento colectivo, 18 trabalhadores do sector de transporte de valores da Prosegur, em Torres Novas, protestaram em Lisboa, à porta da sede.
A redução de 25 um quarto do salário e as alterações horárias são inaceitáveis
A defesa do direito ao trabalho e do trabalho com direitos levou os trabalhadores a deslocarem-se a Lisboa, na sexta-feira passada, e a terem efectuado três dias de greve, entre os dias 10 e 12.
Trouxeram cerca de trezentas caixas embrulhadas em papel de embrulho, cada uma contendo conselhos básicos para o funcionamento de qualquer empresa - «A intimidação é a pior forma de gestão», «O terrorismo social é um instrumento de quem não tem razão», «Bons serviços de segurança, só com trabalhadores motivados», «A repressão é a arma contra quem trabalha», por exemplo -, e depositaram-nas à porta da administração, em Cabo Ruivo.
Prepotência e arrogância
O coordenador do Sindicato dos Trabalhadores de Actividades Diversas, STAD, Carlos Trindade, revelou que, durante anos, a empresa aplicou horários regulares de segunda a sexta-feira, e quando se prolongavam turnos pelo fim-de-semana, eram pagos como trabalho extraordinário.
A 12 de Janeiro, a administração alterou unilateralmente os horários, intimando os trabalhadores a cumprir períodos de laboração contínua, convertendo aquelas horas em horário normal e reduzindo os salários em 25 por cento.
Em Torres Novas, os trabalhadores deram provas de estar mais conscientes na defesa dos seus direitos e, ao que parece, é isso que a administração da multinacional espanhola criada com capitais de proveniência duvidosa, parece não perdoar (ver caixa).
Alguns que fazem desta profissão segundo emprego aceitaram a alteração, mas muitos outros, constatando que a mudança ia causar transtornos incontornáveis para as suas vidas além da forte redução no salário, recusaram-na.
A empresa pressionou os trabalhadores no sentido de não aderirem às lutas, sob pena de serem despedidos e, em meados de Junho, a multinacional avançou com o anúncio do despedimento colectivo em Torres Novas.
Segundo Bernardo Grilo, delegado sindical naquela filial, «o que se está é a perseguir os trabalhadores que não aceitaram as condições impostas ilegalmente pela administração».
Nunca baixar os braços<7strong>
Convocada pelo sindicato, a Inspecção-Geral do Trabalho deu razão aos trabalhadores através de um relatório, mas a Prosegur continua a recusar dialogar com os que exigem o respeito pelo Contrato Colectivo de Trabalho e «recusam práticas terrorismo social», acusou Carlos Trindade.
O despedimento colectivo poderá avançar em Outubro, mas os trabalhadores e as estruturas sindicais prometem não ir baixar os braços.
O secretário-geral da CGTP-IN, Manuel Carvalho da Silva e vários dirigentes e delegados sindicais prestaram solidariedade à luta. O dirigente da Central fez notar que «não há sociedades desenvolvidas enquanto os trabalhadores forem farrapos e hoje está provado que a existência de direitos no trabalho é essencial para as sociedades civilizadas», considerando, por isso, não haver motivo válido para despedimentos.
Incidentes na entrega
A deposição das prendas à porta da empresa causou alguns tumultos entre os trabalhadores e a segurança da sede, por sinal orientada por um responsável da área funcional de vigilância com pronúncia castelhana – de nome, Juan José Paloma Guzman -, à semelhança de muitos quadros de chefia e intermédios desta multinacional (ver caixa).
Quando metade das caixas estavam já depositadas, o dito senhor tentou com alguns empregados, compulsivamente, forçar que as prendas ficassem do lado de fora do átrio da empresa. Uma trabalhadora foi violentamente agarrada por aquele personagem que justificou a atitude à nossa reportagem, afirmando estar a proteger «uma propriedade privada», tendo continuado a empurrar os trabalhadores que só pararam depois de terem despejado a última prenda onde pretendiam, «em nome da nossa dignidade profissional», como afirmou o dirigente do STAD, Carlos Trindade.
«Viva a Prosegur, fora a administração!», gritaram os trabalhadores, prosseguindo com um vigoroso «A luta continua!».
Prosegur
O passado da Prosegur, criada em 1976, tem sido denunciado, desde a década de setenta, por esta ter sido constituída por capitais provenientes da ditadura fascista militar na Argentina.
Nasceu ainda durante a vigência da ditadura fascista espanhola de Francisco Franco que deu guarida a muitos dos assassinos argentinos, além de ter usado o seu país como plataforma para a lavagem de dinheiros e bens extorquidos a dezenas de milhar de antifascistas latino-americanos, dados como desaparecidos nas décadas de setenta e oitenta, aquando da ditadura do general Videla e dos seus lacaios.
A empresa privada de segurança tem sido um dos mais importantes instrumentos para a execução dessas lavagens de dinheiros e bens, e uma forma de exílio seguro para torturadores.
Denúncias efectuadas nas décadas de oitenta e noventa revelaram que nos quadros de chefia e intermédios desta multinacional estão vários destes operacionais, alguns ainda a braços com processos judiciais nos respectivos países de origem.(*)
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(*) Documentário da TV, Antena 3 espanhola de 1993, por exemplo.
Trouxeram cerca de trezentas caixas embrulhadas em papel de embrulho, cada uma contendo conselhos básicos para o funcionamento de qualquer empresa - «A intimidação é a pior forma de gestão», «O terrorismo social é um instrumento de quem não tem razão», «Bons serviços de segurança, só com trabalhadores motivados», «A repressão é a arma contra quem trabalha», por exemplo -, e depositaram-nas à porta da administração, em Cabo Ruivo.
Prepotência e arrogância
O coordenador do Sindicato dos Trabalhadores de Actividades Diversas, STAD, Carlos Trindade, revelou que, durante anos, a empresa aplicou horários regulares de segunda a sexta-feira, e quando se prolongavam turnos pelo fim-de-semana, eram pagos como trabalho extraordinário.
A 12 de Janeiro, a administração alterou unilateralmente os horários, intimando os trabalhadores a cumprir períodos de laboração contínua, convertendo aquelas horas em horário normal e reduzindo os salários em 25 por cento.
Em Torres Novas, os trabalhadores deram provas de estar mais conscientes na defesa dos seus direitos e, ao que parece, é isso que a administração da multinacional espanhola criada com capitais de proveniência duvidosa, parece não perdoar (ver caixa).
Alguns que fazem desta profissão segundo emprego aceitaram a alteração, mas muitos outros, constatando que a mudança ia causar transtornos incontornáveis para as suas vidas além da forte redução no salário, recusaram-na.
A empresa pressionou os trabalhadores no sentido de não aderirem às lutas, sob pena de serem despedidos e, em meados de Junho, a multinacional avançou com o anúncio do despedimento colectivo em Torres Novas.
Segundo Bernardo Grilo, delegado sindical naquela filial, «o que se está é a perseguir os trabalhadores que não aceitaram as condições impostas ilegalmente pela administração».
Nunca baixar os braços<7strong>
Convocada pelo sindicato, a Inspecção-Geral do Trabalho deu razão aos trabalhadores através de um relatório, mas a Prosegur continua a recusar dialogar com os que exigem o respeito pelo Contrato Colectivo de Trabalho e «recusam práticas terrorismo social», acusou Carlos Trindade.
O despedimento colectivo poderá avançar em Outubro, mas os trabalhadores e as estruturas sindicais prometem não ir baixar os braços.
O secretário-geral da CGTP-IN, Manuel Carvalho da Silva e vários dirigentes e delegados sindicais prestaram solidariedade à luta. O dirigente da Central fez notar que «não há sociedades desenvolvidas enquanto os trabalhadores forem farrapos e hoje está provado que a existência de direitos no trabalho é essencial para as sociedades civilizadas», considerando, por isso, não haver motivo válido para despedimentos.
Incidentes na entrega
A deposição das prendas à porta da empresa causou alguns tumultos entre os trabalhadores e a segurança da sede, por sinal orientada por um responsável da área funcional de vigilância com pronúncia castelhana – de nome, Juan José Paloma Guzman -, à semelhança de muitos quadros de chefia e intermédios desta multinacional (ver caixa).
Quando metade das caixas estavam já depositadas, o dito senhor tentou com alguns empregados, compulsivamente, forçar que as prendas ficassem do lado de fora do átrio da empresa. Uma trabalhadora foi violentamente agarrada por aquele personagem que justificou a atitude à nossa reportagem, afirmando estar a proteger «uma propriedade privada», tendo continuado a empurrar os trabalhadores que só pararam depois de terem despejado a última prenda onde pretendiam, «em nome da nossa dignidade profissional», como afirmou o dirigente do STAD, Carlos Trindade.
«Viva a Prosegur, fora a administração!», gritaram os trabalhadores, prosseguindo com um vigoroso «A luta continua!».
Prosegur
O passado da Prosegur, criada em 1976, tem sido denunciado, desde a década de setenta, por esta ter sido constituída por capitais provenientes da ditadura fascista militar na Argentina.
Nasceu ainda durante a vigência da ditadura fascista espanhola de Francisco Franco que deu guarida a muitos dos assassinos argentinos, além de ter usado o seu país como plataforma para a lavagem de dinheiros e bens extorquidos a dezenas de milhar de antifascistas latino-americanos, dados como desaparecidos nas décadas de setenta e oitenta, aquando da ditadura do general Videla e dos seus lacaios.
A empresa privada de segurança tem sido um dos mais importantes instrumentos para a execução dessas lavagens de dinheiros e bens, e uma forma de exílio seguro para torturadores.
Denúncias efectuadas nas décadas de oitenta e noventa revelaram que nos quadros de chefia e intermédios desta multinacional estão vários destes operacionais, alguns ainda a braços com processos judiciais nos respectivos países de origem.(*)
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(*) Documentário da TV, Antena 3 espanhola de 1993, por exemplo.